sexta-feira, 15 de março de 2019

Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, cujo nome de solteira era Maria Laura Mouzinho, nasceu em janeiro de 1917 em Timbaúba, Pernambuco. Maria Laura era a primogênita de oito filhos. Sua mãe, Laura Moura Mouzinho, era professora primária, atual primeira fase do Ensino Fundamental, e seu pai, Oscar Mouzinho, era um respeitado comerciante local e autodidata de grande cultura. Em 1931, concluiu o Ensino Fundamental I (na época, Curso Primário) na cidade de Recife. Em 1932, ingressou na Escola Normal de Pernambuco, tendo permanecido nessa escola até 1934. Neste período, foi aluna do professor Luiz de Barros Freire, que segundo ela foi o responsável pela sua vocação em Matemática. No ano de 1935, sua família mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, sendo matriculada no Instituto Lafayette. Mudou-se para Petrópolis no ano seguinte, tornando-se aluna do Colégio Sion. Maria Laura obteve seu Bacharelado em Matemática em 1941 e em 1942 concluiu a Licenciatura, ambos na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). A FNFi foi fundada em 4 de abril de 1939, pelo então Presidente Getúlio Vargas, através do Decreto-lei n.º 1.190. Foi extinta em 1968 pelo governo militar. Foi unificada, juntamente com outras faculdades, como Universidade do Brasil (antes, chegou a se denominar apenas Universidade do Rio de Janeiro), depois renomeada como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dez institutos da atual UFRJ têm origem na antiga Faculdade Nacional de Filosofia: Escola de Comunicação, Faculdade de Educação, Faculdade de Letras, Instituto de Biologia, Instituto de Física, Instituto de Geociências, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Instituto de Matemática, Instituto de Psicologia e Instituto de Química. Nos seis anos seguintes, dedicou-se ao seu trabalho “Espaços projetivos. Reticulados de seus subespaços”, orientado pelo expoente matemático português, Professor António Aniceto Ribeiro Monteiro. Em 24 de setembro de 1949, obteve o título de Doutor em Ciência –Matemática, sendo a primeira mulher a se doutorar em Matemática no Brasil. Após a defesa da Tese de Doutorado, Maria Laura trabalhou por dois anos no Departamento de Matemática da Universidade de Chicago, Estados Unidos. Durante o período de seu doutoramento, mais precisamente em 1943, iniciou sua carreira como professora universitária, sendo efetivada como Professora Assistente do Departamento de Matemática da FNFi. Maria Laura atinge o apogeu da sua carreira e ocupa todos os cargos existentes no Departamento de Matemática dessa respeitável Instituição. Por ocasião da reforma universitária de 1967, tornou-se Professora Titular. Maria Laura também atuou nas entidades científicas criadas na época: Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no ano de 1949, e neste mesmo ano foi a primeira mulher a ministrar aulas de Geometria para o Curso de Engenharia, no recém-criado Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA); em 1951, participa da criação do Conselho Nacional de Pesquisa, atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e torna-se Membro Titular na Academia Brasileira de Ciência (ABC), sendo a primeira brasileira a entrar para ABC reúne-se a matemáticos influentes do Rio de Janeiro e de São Paulo (USP), para propor ao CNPq, no ano de 1952, a criação do mais importante instituto de matemática do Brasil e um dos mais importantes do mundo, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), do qual foi secretária de 1952 a 1956. Em 1956, casou-se com o renomado físico Professor José Leite Lopes e, com ele, foi trabalhar nos Estados Unidos. Infelizmente, a carreira de Maria Laura é interrompida durante o regime militar. Dezenas de membros da ABC foram atingidos por medidas ditatoriais, que incluíram prisão, aposentadoria, demissão, censura, impedimento ou cerceamento de exercer a atividade científica. Maria Laura foi aposentada compulsoriamente da UFRJ em abril de 1969, com base no AI-5, e, em julho do mesmo ano, foi aposentada também da função de professora do ensino médio. Sendo vedado o direito de atuar no Brasil, mais uma vez Maria Laura segue rumo aos EUA, só que em condição bem diferente: a de exilada. Em seguida, vai para Estrasburgo, França e lá, com apoio do Prof. Georges Glaeser e da Profª. Luciene Félix, Maria Laura dá início ao seu trabalho em Didática Matemática, no Institute de Recherche en Enseignement de Mathematiques (IREM). A partir daí, Maria Laura vai tornando-se uma das mais importantes pesquisadoras em Educação Matemática no Brasil e no mundo. Em 1974, Maria Laura retornou para nosso país, passando a atuar ativamente como defensora de causas inovadoras ligadas à formação de professores e ao ensino e a aprendizagem da Matemática em todos os níveis de escolaridade, assumindo o papel de liderança na área de Educação Matemática no Brasil, que manteve até os últimos dias da sua vida. Não podendo assumir o seu papel na Universidade, ela promoveu cursos para formação de professores na Escola Israelita Brasileira Eliezer Eistenbarg e no Centro Educacional de Niterói. No ano de 1976, participou com os professores José Carlos Melo e Souza (1905-1990), Moema Sá Carvalho e Anna Averbuch na criação do grupo de pesquisa “GEPEM - Grupo de Ensino e Pesquisa em Educação Matemática”, que presidiu durante oito anos. No GEPEM, participou da organização de vários eventos. O primeiro deles foi o “Seminário, Sobre Ensino da Matemática”, realizado na Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro, e coordenou a primeira pesquisa em Educação Matemática no Brasil, o “Projeto Binômio Professor-Aluno na Iniciação à Educação Matemática”. Outra ação de suma importância foi à criação, pelo GEPEM, em 1980, do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Educação Matemática, considerado o pioneiro e embrião do segundo Curso de Mestrado em Educação Matemática no Brasil, ambos em convênio com a Universidade Santa Úrsula (USU). No ano de 1980, felizmente Maria Laura é reintegrada ao Instituto de Matemática (IM) da UFRJ. Como sempre ousada, aceita mais um desafio: inovar o ensino de Estatística para os alunos do curso de licenciatura e, para tanto, pede para ser lotada no Departamento de Estatística. No ano de 1983, as ações desenvolvidas nos Institutos de Física, Biologia, Física, Geociências (Geografia), Química, unidas as da Matemática, implantam o Projeto Fundão- Desafio para a Universidade, sob a coordenação de Maria Laura. O Projeto Fundão passou a integrar o Subprograma de Educação para Ciência (SPEC), do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) e gerenciado pela CAPES. Pelo seu empenho no ensino e pesquisa de Matemática no Brasil, Maria Laura é agraciada com o título de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no dia 01 de julho de 1996. Maria Laura teve três filhos: José Sérgio, Sílvio Ricardo e Ângela. Morreu dia 20 de junho de 2013 deixando um grande legado. Seu trabalho é hoje referência no mundo todo.
Fonte: mulheres na matemática

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